Um ano antes de prestar o vestibular eu propagava aos muitos cantos do meu mundo que seria bióloga marinha. Era uma certeza tão concreta que já podia sentir, naquela época, o sal e o sol em mim, mesmo morando no interior do país e antes de fazer as insistentes perguntas do porquê dessa escolha. Um ano depois, mergulhada em discussões políticas e sociais e no forte desejo em escrever de forma profissional precisei escolher entre Ciências Sociais e Jornalismo. Passados 25 anos do término da Graduação, vive em mim uma antropóloga questionadora e curiosa que, além de tantos temas, revisita a própria história correntemente para entender melhor o que me trouxe até aqui.
Para além do fato de desconhecer na profundidade a carreira de uma bióloga marinha, gosto de pensar nessas certezas que vamos proferindo vida à dentro como bons pontos de aprendizado e pistas de como nos constituímos. A ideia de pesquisar a vida marinha, mergulhar em águas desconhecidas, voltar à superfície, reconhecer ritmos e formações oceânicas, padrões e lógicas tão diferentes dos meus se apresenta, hoje, como impulso de criatividade, amor ao conhecimento, diversidade e curiosidade, habilidades que utilizo profundamente nos meus trabalhos atuais. Hoje sei que aos 17 anos algumas raízes importantes da profissional de hoje já se apresentavam, ainda que a carreira tenha tomado formato diferente. Sigo acreditando que, apesar de temas diferentes, escolhi um rumo parecido de investigação e construção de sentido: investigo culturas corporativas, formações de comunidades profissionais, comportamentos e estilos diferentes, rituais corporativos, mergulho em temas obscuros e volto à superfície. Saber olhar para trás, refletir, conectar nossos pontos e poder contar nossas inúmeras estórias dentro da nossa história atribui autenticidade ao que vivemos e compartilhamos. Ninguém pode fazer isso pela gente.
Grande parte da autenticidade de nossas carreiras vem da capacidade de entendermos os SIMs e os NÃOs que experienciamos ao longo da jornada. Corrigir rotas, tomar decisão de seguir outros caminhos e desenhar outros mapas para si, sempre conversarão com as demais experiências, mesmo as interrompidas ou preteridas. Muito pouco do que vivemos fica desconectado, sem sentido. O exercício do autoconhecimento e da constante reflexão para dentro das nossas estórias nos conduzem a um lugar no qual podemos experimentar valores mais claros, mais autênticos e um sentimento mais satisfatório com a carreira e nossas vidas. Olhar para nossas estórias e saber contá-las nos torna únicos além de revelar o engodo de acreditar em verdades inquestionáveis em torno da carreira. Não existe regra, não existem locais e paradas obrigatórias na carreira, ela é fluxo, é composta pela transitoriedade. Nossa carreira, assim como a vida, é extremamente sensível ao tempo. Não é que a carreira, ou a vida, mudem. Nós mudamos e precisamos compreender a partir dessa mudança, o que deixamos para trás e o que projetamos para frente. O COMO fazemos essa mudança é um mergulho para dentro da nossa autenticidade. Penso ser bem improvável uma carreira que sobreviva apenas de superfícies. Ou de espuma.
Já refletiu sobre o que é mais autêntico na sua carreira?
Danielle Moro, sócia da Veropequi